Apetece-me pegar num telefone, num teclado de um telemóvel ou de um computador e dizer-te. Apetece-me escrever-te tudo numa carta enorme, como sempre acontece quando começo a escrever. Apetece-me usar metáforas, pegar em letras de músicas, frases que são elas proprias notas musicais. Apetece-me cantar-te um poema que eu mesma escrevesse, ao som de acordes simples, como é simples o que me apetece dizer. Apetece-me escrever-te um e-mail, ou dizer-te pelo MSN. Apetece-me ligar-te ou mandar-te uma mensagem.

Dizer-te uns poucos dos milhares de coisas que ficaram por dizer, explicar-te que as palavras não são senão a espuma das coisas, dos sentimentos, dos dias, que verdadeira vida está algures nas nossas peles, nos teus olhos, nas noites que não passámos juntos ou nas que viremos ainda a partilhar, nas emoções que já vivemos ou nas que viveremos, nessa coisa vaga e difusa a que a "inabilidade fatal" chama amor, no desejo tão forte e tão, simultaneamente, incompreensível, nesse vasto vazio que é a tua ausência, a distância; na vontade que tenho de te ver e falar e tocar e amar; és a vida! És a vida das palavras, a pele, o corpo e os olhos delas, és o que lhes está por baixo e por trás, tudo o que passou e o que por aí virá, és todas as sílabas do tempo, todos os fonemas do desejo, uma das metades do ditongo da vida.

Apetece-me escrever-te ...Fazer tudo isto sem uma morada nem um nome sequer. Debitar palavras e gastar mais uma folha que provavelmente se perderá ao fundo da rua ou nas mãos de alguém que queira ouviru ma história de perdas e amores sonhados. Quero enchê-la de ilusões como de ilusões construi a minha vida, como de ilusões te desenhei na minha cabeça.

Não sei quem és, ninguém sabe. Talvez apenas o vazio que me enche o peito, a lágrima cintilante que me desliza pelo rosto ou os braços que espero de noite. Talvez não sejas mesmo nada... Talvez não me ouças...Não me queiras...Não existas...


Apetece-me tocar-te, e escrever-te na pele as letras do desejo, do amor, do tempo e da vida!


Desiludiste-me
Daquela forma que só as pessoas de quem se gosta mesmo nos podem desiludir.